sexta-feira, 25 de outubro de 2013

MARIA E AS OUTRAS

Sou sempre cautelosa, diplomata, julgo, nunca querendo ferir alguém, desejosa de agradar, tolerante. Daí o não ser muito direta nem frontal. Evoco muitas vezes a frase de Montalbán «se afirmam dizer-te na cara tudo quanto pensam, afasta-te, não tarda mordem-te!».
Também as pessoas mesureiras, sempre risonhas, de elogio fácil e permanente, como se dependentes, me suscitam cautela. Desprezadas são tempestade.
E digo tolerante longe do sentido judaico-cristão, que me levaria a cegamente e com o peso da culpa, abraçar quem me atraiçoa. Faço-o num outro, o meu. Se as pessoas me forem adversas - e raramente o foram na minha vida, felizmente -, desvio-me com discrição, sem cortes bruscos. Portanto, dir-lhe-ei apenas que me agrada conviver com pessoas mais jovens que eu.
Fui sempre assim. Acho que isso me fez ser o que hoje sou. Desde os meus médicos internos, gerais e de especialidade, os meus alunos nas universidades, os meus colegas de pós-graduações (fui sempre a mais velha), a malta da cultura, principalmente, onde Servi longamente, todos foram estímulos de vida. Creio que, numa fração menor, o contrário também terá sido verdade.
Fui sempre a mais velha mas sempre com um passo à frente dos meus colegas de ofício e de curso.
Como vou reorientando a minha praxis profissional - agora que deixei, voluntariamente, etapas já gastas para o meu gosto de envolvimento - voltei à universidade para me adestrar melhor em ferramentas de determinada área. Como já não sou jovem em idade, acho mesmo assim que estou à altura de mais outro desafio jovem, bem mais competitivo em função das capacidades.
 E dou por mim a ter de estudar como uma leoa porque o ambiente me leva a tal. É ótimo, digo eu. Mas são sempre os outros quem nos avalia melhor. E eu gosto disso.
Henrique Pinto
Outubro 2013

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