quarta-feira, 30 de abril de 2014

OS DISPARATES DOS PORTUGUESES

A linguagem de certos portugueses do futebol supostamente com maior formação, meio onde existe muita gente culta, é, por vezes, de estilo o mais constrangedor e arrepiante possível de imaginar. Um dono de clube da NBA foi posto fora do círculo desportivo por alegada linguagem racista. A federação do futebol europeu, mesmo com a «bronquite» do seu dirigente máximo, tem a correr uma campanha soberba contra o racismo. A atitude dum espetador xenófobo com a banana de El Madrigal teve um efeito contrário ao esperado e incendiou e projetou aquela iniciativa. Pois como todos os que me leem já devem ter ouvido, são comuns entre os nossos comentadores muletas oratórias do género «foi comprado ou vendido por tantos milhões de Euros». Senhores, a transação é sobre o passe do jogador e não sobre este. A escravatura acabou formalmente no século XIX com Portugal como primeiro defensor legal da liberdade!
Contudo, não se ficam por aqui. São cada vez mais frequentes as designações «futebol vertical» ou «jogar verticalmente». Será que querem dizer que o jogo se pratica da relva para as nuvens, vertical «traduz-se» por de baixo para cima? Ou estarão a pensar num comportamento sem mácula? Pelo menos é o possível de inferir de acordo com a geometria ou os significados linguísticos. Não, estes sábios têm em mente o jogo longitudinal, de trás para a frente rente à relva. Só que as palavras usadas têm outro sentido. Se fizermos contrastar esta pretensa «erudição» com as anedotas postas a circular, sabe-se lá se pelos mesmos palradores, quanto aos «chutos na gramática» desta ou daquela personagem, que não tendo títulos académicos é ou foi uma estrela na sua área de conhecimento, o disparate ganha mais substância. Conhecendo-se os valores das tiragens do maior jornal português de referência, um semanário, a não ultrapassarem o quarto de milhão de exemplares, e os da do periódico desportivo mais vendido, com três edições semanais a irem cada uma para além do meio milhão de jornais, podemos pensar com um pequeno esgar ou com um sorriso aberto na flagrante perda duma oportunidade, mesmo se ínvia, de aculturação.
Abril 2014

Henrique Pinto 

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