segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

CELEBRAÇÃO SONEGADA

Qualquer dos feriados surripiados numa manobra de pura demagogia neoliberal, nada acrescentou à «riqueza» ou à moralidade do país. Acabe-se, já é tempo, com os hossanas a uma suposta única forma de suster o endividamento, um floreado mais desta cegueira. Afinal, por culpa lusa, por culpa da estranja, por culpa de muitos, a via única veio a desembocar num fiasco. Acabe-se com este espírito mesquinho que abocanhou a social-democracia/socialismo democrático, e, num ímpeto autoritário, nos recusou alguma simbologia e algum ócio.
Esta é uma olhadela global.
Se ao invés do Dia da Restauração da Independência o feriado invalidado tivesse calhado ao 5 de Outubro, não seria menor a contestação, nem maior ou menor o espetro de razões.
Vejamos pois em particular, Filipe II de Espanha, o rei Filipe I de Portugal, teve acesso legítimo à Coroa portuguesa. Tal ficou a dever-se, não apenas à criancice dum rei imberbe, criado pela avó, mas sobretudo ao papel nefasto dos Jesuítas portugueses, sempre sequiosos de poder, no aconselhamento régio ao infeliz monarca, a queimarem soluções. A dinastia espanhola trouxe a esta terra alguma prosperidade. Tal como à Madrid da época, a dos austríacos, como é conhecida. A 1 de Dezembro de 1640 imperou a concretização da aspiração nacionalista e patriótica dum amplo setor nacional, um golpe revolucionário a dar outra alma ao país.
A queda da monarquia em Portugal em 1910 resulta dum movimento um tanto semelhante ao daquela mudança política de quase três séculos antes. Nada tem a ver em extensão e significado com os ganhos sociais e políticos, por exemplo, dum 25 de Abril. Muito embora também tenha posto fim aos efeitos duma ditadura, mas neste caso já moribunda. Exceto nas eleições presidenciais de resto pouco mudou estruturalmente. Havia até grande similitude de pensamento nas elites monárquicas e republicanas. E deu-se mesmo certo retrocesso nalguns aspetos políticos importantes, como o processo eleitoral (António Costa pretende agora, e bem, recentrar as eleições em primárias e círculos uninominais, estes últimos abolidos em 1911), ou o prometido e não concretizado voto feminino.

Portanto, ao contrário do que diz Ribeiro e Castro, o Dia da Restauração é apenas mais uma das datas ilustres e simbólicas do país (como o 5 de Outubro ou o 25 de Abril), cuja celebração foi sonegada pela ignorância e subserviência do neoliberalismo reinante.  
Henrique Pinto
Dezembro 2014

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