sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

INSUBMISSO AO ATINGIR OS NOVENTA

Há dez anos estive na FIL no jantar do seu octogésimo aniversário. Conheci-o no estrangeiro há décadas, a filha Isabel – de parabéns pelo segundo lugar conquistado este ano pelo Colégio Moderno no ranking nacional das escolas –, foi minha colega de Faculdade, damo-nos bem. À Dra. Maria de Jesus, sua esposa – não esqueço a memorável intervenção no Congresso da Oposição Democrática em Aveiro, 
educadíssima mas vibrante, à qual a polícia de choque de Marcelo Caetano deu uma resposta impiedosa -, liga-me uma amizade vincada. Juntos calcorreámos musseques de Luanda, com Vítor Ramalho, procurando hipóteses de ajuda para debelar a pobreza e miséria extremas. Juntos falámos na Assembleia da República para todos os deputados sobre as necessidades para o apoio a África.
Concorde-se ou não com Mário Soares ele é uma personalidade singular da vida do Portugal contemporâneo. Tenho por ele uma grande estima. Resistiu sempre à baixeza de quantos o quiseram humilhar e vilipendiar. Foi invariavelmente duma coragem à prova de bala. É um homem culto, zelador dos princípios da social-democracia/socialismo democrático, seguramente imparável até morrer. Faz domingo noventa anos. Bastante lúcido, como Adriano Moreira, um homem a passar incólume pela história. E tal como meus saudosos pais ao passaram pela sua idade, um estádio de não submissão de todo raro, está pouco dócil quanto ao que toma por injustiça. Fala sobre isso como o sente dizendo a «verdade de muitos».
Devemos-lhe todos muitíssimo pela sua bravura, inteligência e empenho, mesmo quantos ora não toleram o estilo, o espírito livre ou a solidez do seu apego à democracia. Vale a pena ler a este respeito o último escrito de Henrique Monteiro no semanário Expresso. É absolutamente notável e insuspeito. Parabéns Dr. Mário Soares.
Henrique Pinto

Dezembro 2014


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