domingo, 9 de novembro de 2014

ANDRÉ GUNKO, UM PORTUGUÊS HERDADO DO LESTE, NA EVOCAÇÃO DO MURO

Está a comemorar-se o 25º aniversário de derrube de Berlim. Terá sido também o desmoronar dessa fase dura da Guerra Fria. Não fora a Perestroika, fruto da determinação e clarividência do dirigente soviético, Gorbachev, e tal teria tido outros contornos. É ele mesmo quem agora diz, nas celebrações da efeméride na Unter den Linden, «a guerra fria está aí de novo». É algo desconsolador o que se espera.
A Portugal aflorou então a nata dos músicos e mestres desses países do Pacto de Varsóvia, abertos ao ocidente pela ânsia das populações. Países onde a educação musical era de excelência.
As nossas orquestras, e particularmente a da Gulbenkian, tiveram contributos fabulosos. E o ensino também. Depois foram abrindo concursos para instrumentistas um pouco por todo o mundo. E de Portugal foi saindo esse escol único, transitório, de grandes intérpretes, para satisfação dos dirigentes e maestros nas grandes orquestras mundiais.
Outros foram ficando, apaixonados pelo sol, a paisagem, a comida, presos pelo amor. Muitos estão por aí. Alguns são meus amigos. Mas se os músicos tinham lugar em qualquer lugar as barreiras de anquilose do ministério da educação, e a diferença de perspetivas, às vezes nos antípodas, das suas direções regionais, dificultava aqui as colocações, facilitava-as ali por falta de mestres. Foi assim que nos Açores e na Madeira surgiu algum do melhor ensino musical vindo do leste.
Colónia, bela cidade alemã à beira do Reno e do seu trânsito náutico infernal, cidade musical por excelência, aloja o Centro para a Música Contemporânea, com a sua belíssima catedral, faz parte do meu roteiro de eleição. Foi dali que a RTP2 e a Antena 2 transmitiram na última semana o 17º Festival Eurovisão para Jovens Músicos. A Orquestra Filarmónica de Viena acompanhou os intérpretes, tanto nas provas individuais como na peça magistral, Fantasia para Colónia, obra encomendada ao maestro Mark Addam, a dirigir a orquestra.
Lá estava o candidato de Portugal, André Gunko, um violoncelista primoroso, adolescente, já vencedor do Prémio Jovens Músicos da RDP, nascido no Faial, Açores, um desses briosos filhos da diáspora de mestres do leste. Em Leiria, tivemos há dois anos a violinista Tamila Kalambura, filha de mestres da Ucrânia e igualmente nascida nos Açores, outra das nossas grandes intérpretes. Este é o melhor contraponto ao que Gorbachev, e muito bem, anuncia como espectável.

Venceu o certame um adolescente chinês, Ziyu He, a estudar em Salzburgo, e que já por duas vezes participou no Concerto de Abertura do imenso Festival Local. HP

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