segunda-feira, 10 de novembro de 2014

MESMO COM LEGIONELLA HÁ TACHOS INTOCÁVEIS

Em Portugal os poderes autárquicos (quaisquer que sejam, à direita e à esquerda) nunca admitirão que lhes digam «estão errados», quando se trata de questões eminentemente ambientais e de saúde. Começam logo a defender-se com os «exames autónomos». Quantas vezes os «políticos» regionais da saúde (é sempre o problema partidário ou o conluio da alternância) não acabam a sancionar com uma reverência estas atitudes sobranceiras? Constatei tais chapeladas no passado. Combati-as com firmeza. Adivinho-as em muitos gestos do presente.
Estou seguro que Paulo Macedo e Francisco George tudo farão para tornear estes empecilhos na difícil avaliação epidemiológica a correr, a propósito dum surto grave e muito localizado de infeção por Legionella, em Vila Franca.
A fonte da infeção está seguramente num local fora de «toda a suspeita» para alguns responsáveis. Pessoas cuja boa vontade não é de excluir conquanto que se não tome por um diktat.
Dou um exemplo. Cheguei a confrontar-me com surtos de gastroenterite significativos com origem na rede pública de água que se sabia tratada. Todavia, ou porque um jeitoso qualquer (certa vez um autarca) fez um bypass na rede ligando-a a fontes conspurcadas (para poupar!), ou porque a rede era extensa e elevados consumos a montante ditavam baixas na cloragem a jusante, ou ainda porque certos empreendimentos de pessoas muito respeitáveis poupavam na água recorrendo a perfurações superficiais.
A uma investigação epidemiológica desta natureza é necessária franca autoridade respeitada e diplomacia. A «boa vontade» oficial não deve fazer ninguém abdicar de ir até ao fundo das questões.

Henrique Pinto  
Novembro 2014

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