segunda-feira, 17 de novembro de 2014

LACUNA SOBERBA

Há décadas que a OMS, Organização Mundial de Saúde, produz documentação científica, tendente a melhor se formarem os cuidadores de doentes. Ora o problema da sua pouca formação é praticamente tão grave quanto o da sua raridade. E esta falta de recursos humanos, transversal a boa parte do mundo desenvolvido, é muito mais sentida nos países com menor literacia e ordenados mais baixos. É assim que boa parte dos idosos com doença de gravidade média perdem mais de 30% do peso quando internados nos hospitais (por muito bom que seja o nível médio do pessoal mais qualificado). Estas cifras são ainda mais cruas quando se trata da institucionalização por velhice (!?) ou invalidez. Imagine-se então a dificuldade em selecionar recursos humanos na área dos cuidadores para a doença mental, e designadamente um dos seus estádios mais avançados, a Doença de Alzheimer.
Não tenho, felizmente, nenhum familiar tipicamente enquadrável como Alzheimer. Mas conheço pessoas profissionalmente muitíssimo competentes, da minha família, que se sentem bem trabalhando ainda melhor nesta área de patologia tão difícil de dirimir. Conheço bem a questão como médico especialista de saúde pública.
 A Associação Alzheimer de Portugal, com o apoio do Montepio, da Universidade Católica, da Fundação Calouste Gulbenkian, da Santa Casa da Misericórdia, da Sonae Sierra e de Delta Cafés, entre outros importantes mecenas, está a generalizar país fora este evento singular, o Café da Memória. É, em traços largos, o ponto de encontro para pessoas com problemas de memória e seus familiares. Tão grande é a falta de institucionalização com crédito no nosso país – embora haja bastantes onde o débito trabalha melhor -, que os familiares acabam por ser, como nem sempre, os cuidadores ideais em primeira instância. Nesta interação com doentes e pedagogos de alto nível, do mais prático a pessoas do gabarito do Professor Castro Caldas, e quejandos, as pessoas que têm o problema em casa sentem-se mais confiantes, mais valorizadas no seu empenho, e bem mais conhecedoras. Bem haja a Alzheimer de Portugal.
Novembro 2014

Henrique Pinto


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