quarta-feira, 30 de junho de 2010

CANTO E LÁGRIMAS EM TERRA QUENTE


Foi um privilégio muito substantivo para mim poder apresentar – ainda que a pinceladas esparsas e breves – o escritor, o médico, o Homem, o autor de Canto e Lágrimas em Terra Quente, um livrinho amargo e doce sobre a cooperação solidária, na FNAC de Santa Catarina, à rua Passos Manuel no Porto, onde ora está à venda.
O Dr. Hernâni Caniço, que o escreveu, é um Homem da solidariedade. Alguns juízos mais sensíveis às circunstâncias poderão julgar mal esta asserção. Num mundo a parecer tendencialmente egocêntrico, haverá ainda lugar a esse sentimento/valor tão significativo? Na verdade, as ONG e demais instituições da economia do terceiro sector têm um papel cada vez mais presencial e assertivo na participação solidária no mundo de hoje. Há milhares de boas causas em apreço. Boa parte do mundo comove-se com a dor alheia e milhões de pessoas acorrem a fazer dela a sua própria dor.
 
Mas como é possível que sejamos levados a dar mais importância aos valores de sinal contrário de permeio com o esquecimento radical da informação? Quando os novos liberais, cada vez mais novos e plenos de urgência, sobrepõem os seus objectivos aos valores intemporais da Humanidade, tais desfasamentos tornam-se luminescentes e induzem a descrença.
Todavia, há homens como o meu colega e amigo Dr. Hernâni Caniço, de antes quebrar que torcer em favor duma visão e duma prática humanista do mundo, e do valor do exemplo. E isso faz toda a diferença.
Nasceu em Fazendas de Almeirim a 24 de Janeiro de 1954. Licenciado em Medicina na Universidade de Coimbra em 1977, é Assistente da Faculdade de Medicina desta Universidade desde 1990 e Orientador de Mestrados.
Exerce o belíssimo magistério de Médico de Família com gosto, paixão mesmo. É Chefe de Serviço e Orientador de Formação no Centro Saúde de S. Martinho Bispo, em Coimbra.
Em 1993 fundou a Associação Saúde em Português, Instituição de Utilidade Pública de Portugal, a que preside desde então.
Ainda recentemente, os voluntários desta Associação, discretamente e sem ajudas especiais, estiveram
no território mártir do Haiti, logo após o sismo, e o seu desempenho foi notável e utilíssimo a ponto de as Nações Unidas sancionarem a outorga à Associação dum projecto relevante de apoio humanitário.
Este homem bom, empenhado, voluntarioso, disponível para os outros, é muito justamente, Membro Observador Consultivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, Membro Associado da Confederação Ibero-americana de Medicina Familiar, Membro da Plataforma Portuguesa das ONGD e Membro do Fórum Não Governamental para a Inclusão Social.
A dedicação e o empenho não impedem que seja justamente crítico. No governo anterior chegou a pôr-se a questão de o pequeno volume de Portugueses agenciados para o voluntariado poder ser um entrave à cooperação. No entanto, nem esse querer é tão exíguo nem o problema maior reside aí. Na pergunta do Dr. Hernâni Caniço «quem representa Portugal e como?» Veja-se, um grupo artístico amador viaja com «comissões gratuitas de serviço» se actua no estrangeiro e aos «performers» dum jogo de futebol
ao mais alto nível não lhe faltam prebendas. Uns e outros representam Portugal. No entanto, o voluntário da saúde, para o ser efectivamente, tem de pedir «licenças sem vencimento» e ninguém dirá, seguramente, ser uma forma menos digna de representar o país. Uma situação que deve merecer um olhar mais atento da minha colega Dra. Ana Jorge, ministra da saúde, e do senhor secretário de Estado da cooperação, Dr. João Cravinho, independentemente da situação financeira do país.
O projecto para a instalação da Telemedicina na Ilha caboverdeana de São Vicente, com o apoio de Rotary International, da Cabo Verde Telecom e da Universidade de Coimbra, induz a criação duma importante infraestrutura de Saúde, porventura exemplar não apenas para o arquipélago atlântico mas seguramente para toda a África, onde os recursos humanos qualificados são escassos e os meios físicos e humanos inadequados às necessidades.
É mais uma das muitas missões humanitárias do Dr. Hernâni Caniço, cidadão do mundo. Conhece-se-lhe já o envolvimento em 43 missões de serviço exploratórias, de reconhecimento, de formação e avaliação, em África, Brasil, China, Tailândia, Argentina, Cuba e Timor.
Tem mourejado «por onde se fala português e onde a história portuguesa não se ignora, onde se sente a solidariedade entre as gentes», como costuma dizer. E foram histórias e poemas com alusões a este percurso que a Dra. Cecília Sequeira leu como apresentadora do livrinho em apreço.
Presto assim ao Dr. Hernâni Caniço um preito respeitoso, fraterno, francamente apologético, desejando-lhe – porque muitos dele precisam – as maiores venturas em tão meritório empreendimento. Só por isso ele já é um dos nossos heróis.
Henrique Pinto
Junho 2010
FOTOS:  Cecília Sequeira, Hernâni Caniço e Henrique Pinto (que apresentou o autor), na livraria FNAC de Santa Catarina, Porto; livro Canto e Lágrimas em Terra Quente; Hernâni Caniço durante a apresentação do seu livro; logotipo da Associação Saúde em Português; Revista Ser Solidário, da Associação Saúde em Português; Cecília Sequeira, organizadora do evento, com receita a reverter para o projecto Telemedicina em Cabo Verde, que também apresentou o livro de Hernâni Caniço; o presidente Jorge Sampaio acompanhou o projecto Saúde em Português; a ministra Ana Jorge poderia debruçar-se sobre o estatuto do voluntário da saúde; vegetação em Cabo Verde, último local em África, até agora, onde Saúde em Português está a instalar o projecto Telemedicina.

Sem comentários:

Enviar um comentário