terça-feira, 20 de julho de 2010

COISAS QUE NÃO APRECIO


Armstrong caiu duas vezes nas estradas do tour e por via disso afundou-se. As tentativas de um homem se superar a si próprio no desporto, como Mandela na prisão de Robben Island, João Garcia nos picos dos Himalaias ou Farinas em Cuba, em greve de fome pela Liberdade, sempre suscitaram a minha admiração. Pena é tantas vezes de nada servir a memória.
Saber que entre 1998 e 2008 o país deixou sair mais de 700 000 imigrantes, dos quais 100 000 no último destes anos, é assaz preocupante. Se mais de 100 licenciados em cada mês viram as costas ao país mais se agrava a desqualificação colectiva e se esvai o investimento educativo. Há sempre um «machado que corta a raiz ao pensamento».
Admito algum jogo verbal em fase de afirmação de liderança política. Todavia, nenhum líder político português em exercício parece poder, saber ou compreender que o país precisa acreditar e ter confiança, sabendo o que o espera. Não fizeram a sua mea culpa pelo ruído provocado ao morderem-se entre si, saem para o estrangeiro sem lá cheirarem o desgaste provocado por tal actuação. Ou então quando lá falam com quem? Reproduzem lá o circuito fechado dos que estão a seu favor aqui?
Como é possível à ANQ, na defesa da anterior ministra perante a ofensiva de professores e sindicatos, por um lado, e o lobby da inércia dalguns Conservatórios do Estado (num e noutro caso com o espírito de Jerónimo de Sousa de permeio), ter aceitado a opção pedagógica inenarrável dos segundos, os conselheiros privilegiados de agora, junto com alguns professores das pequenas escolas (devem ter horror à gestão e a outros saberes), numa opção de todo despida de interesse nacional, numa solução de que o país não carece, forçando o ensino especializado a partir dos dez anos com o esvaziamento do ensino geral, de acesso democrático?
O Expresso considera negativa a opção de Defensor de Moura de se apresentar como candidato a Presidente da República, porque «prejudica o colega de partido Manuel Alegre». Meu caro Henrique Monteiro, o senhor tem um discurso retorcido, difícil de entender, faz opções sui generis como a da adopção precoce do acordo ortográfico, mas é um democrata. Não há nenhuma razão para considerar o poeta uma opção de se lhe tirar o chapéu, há muito melhor no terreno! Vai com certeza deixar passar-se o mesmo quando surgirem Santana Lopes ou alguém por ele e Jerónimo de Sousa ou alguém por ele?
Fala-se em rever a constituição e o facto dá-me vontade de rir. Alteram-se-se mandatos de 4 para 5 e de 5 para 6 anos, demite-se o primeiro-ministro muito facilmente, não sei se se acaba com a boateira crónica que queima políticos em lume brando por anos a fio e instala a desconfiança no país. E nem uma palavra para a legislação eleitoral aberrante? Deixou de interessar uma vez mais? Meus caros amigos, assim, vão pastar caracóis.
Henrique Pinto
Julho 2010
FOTOS:Tour de France 2010; Maria de Jesus Rodrigues (caricatura); João Garcia nos Himalaias; Guillermo Farinas, esteve em greve de fome mais de cem dias pela libertação dos prisioneiros de consciência; Defensoe Moura, aqui com o ministro Luís Amado; Pedro Passos Coelho (caricatura); Lance Armstrong

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