sexta-feira, 23 de julho de 2010

EM MOUNTAIN SIDE


Estive há pouco por duas vezes em Newark, hóspede, sempre, de amigos do peito como o António e a Isabel. Na sua mansão de Mountain Side alivio canseiras, cogito no devir, damos cor aos anos, rimos com a curiosidade de filhos e noras, observamos os pássaros.
Numa das ocasiões almoçámos em Elisabeth, entre dois voos, o Restaurante Olivença tinha a portugalidade irreversível de Jorge de Sena, o odor almiscarado da ilusão do que é vizinho, tal o
empate com a Costa do Marfim de Erickson e Tony, e o nervosismo encapotado da conferência ao outro dia no Canadá.
Noutra das vezes cirandámos pela Pensilvânia, o verde inebriante, escorrido por milhas, sedativo. E a evocação do mourejar de gerações lusas na Betlehem Steel. Palpámos uma vez mais o frenesim de
Nova Iorque a partir da rua 44, O Fantasma da Ópera e American Idiot, espectáculos dejá vues, Times Square inigualável, um Ronaldo feliz a sair dos ecrãs, a Broadway a fervilhar e o circuito do Hudson e do East, do Harlem até à George Washington, ainda por experimentar.
 Lanchámos naquele bar jovem à saída do Lincoln. Dali fotografei em tempos as Torres Gémeas, antes do fanatismo de todas as raízes e desta remake do capitalismo mais selvagem que nunca, nos empurrarem umas décadas não sei em que sentido, como na série televisiva Flashforward.
Os Europeus olharam de soslaio a erupção asiática, a nova ordem monetária que em nada inova, espalham-se como poeira de antraz os sinais de intolerância, da não inclusão social e da aversão à cultura como herdeira dos valores do espírito livre e solidário.
New Jersey foi e é o Estado Americano da esperança de futuro para gerações de portugueses. E ver Portugal dum outro ângulo, ainda que cena repetida, nunca deixou de ser-me esclarecedor. Por isso admiro a juventude que viaja mundo fora sequiosa da diferença, e a que evolui estudando em
universidades estrangeiras, não tanto pelo conhecimento mas pelo mérito reconhecido. Gosto do Gonçalo Cadilhe exaustivo, pedagogo entusiasmado.
Mas o skyline de Manhattan afigura-se-me cada vez mais irrecusável, íman duma cultura jovem na multiplicidade estética e étnica, mesmo que sobranceiro, como se o humor elaborado de Woody Allen
há muito deixasse Greenwich Village e o Theater Row e o rosto feito máscara de Gertrude Stein na obra de Picasso, o Metropolitan Museum of Art, para serem manto salvífico, inspirador.
Henrique Pinto
Julho 2010
FOTOS: Times Square 1, Nova Iorque; Henrique Pinto e António Oliveira na Pensilvânia; a Estátua da Liberdade vista do Hudson; a igreja em Mountain Side; uma fábrica de aços em Betlehem;
Times Square 2; a Ponte de Booklyn; monumento evocativo do 11 de Setembro em Mountain Side, lugar onde residiam alguns dos muitos mortos; Bronx; skyline de Nova Iorque a partir do Hudson; edifício das Nações Unidas; Ponte George Washington, entre Manhattan e Newark; António e Isabel Oliveira; nos dois espaços maiores do skyline fica o Ground Zero, local das Torres Gémeas;

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