Sir Paul McCartney foi recebido no Parlamento Europeu para defender a ideia de «mudando os hábitos de alimentação, abstendo-nos de comer carne uma vez por semana» ser possível «fazer um enorme impacto nas emissões globais de dióxido de carbono e outros gases de estufa».
Paul é um dos meus ídolos desde a juventude. Se fosse eu a pedir seguramente não teria sido aceite naquele fórum por mais sério que fosse o motivo. Mesmo assim não se livrou dalgumas piadinhas. Os Holandeses ainda não «digeriram» a incúria inglesa com o processo vacas loucas e já lhes estão a tocar outra vez no filão. «Isto não sou só eu, um vegetariano, a desbobinar», disse o ex- Beatle. «Foi um relatório das Nações Unidas chamado “Livestock`s Long Shadow”, que fez com que me interessasse pelo assunto».
A dieta equilibrada e lógica, e particularmente a mediterrânica, é conhecida. Pressupõe a ingestão dum gradiente diferente para hidratos de carbono, gorduras e proteínas, sem nunca abdicar da participação simultânea dos três grupos de ingredientes, como um todo, no modelo ideal. É bem verdade que ao arrepio desta dieta tipo, nos países mais ricos abusa-se do consumo de proteínas, designadamente de carne.Al Gore apoiou as «Segundas-feiras Sem Carne», assim como o cientista indiano Rajendra Pachauri, actual presidente do Painel inter-governamental sobre Mudanças Climáticas.
Nem por isso deixo de entender como escandalosa a forma descontínua como estas propostas aparecem.
O Homem não tem superioridade moral sobre outras formas animais e vegetais embora a sua subsistência delas dependa. As vacas terão até capacidades fisiológicas que os humanos não possuem. Sendo animais herbívoros produzem ácidos gordos enquanto os humanos terão de os ingerir. É parte do que há de belo na natureza.
O Homem autodestrói-se pela alimentação (por exagero e por defeito, nomeadamente nalgumas modalidades vegetarianas) e destrói o seu habitat, sobretudo pelo desregulamento da produção e consumo de combustíveis fósseis e na desflorestação. Produz também excesso de carne e leite com os seus derivados, quando os mesmos produtos não estão ao alcance de dois terços da Humanidade.É esta inversão de prioridades que mais me choca nas demonstrações de Sir Paul McCartney, feitas seguramente com as melhores intenções do mundo.
Henrique Pinto
Fevereiro 2010
FOTOS: Sir Paul McCartney discursou no Parlamento Europeu em Dezembro sobre o «contributo» das vacas para o efeito estufa; «Europa riding the bull» (a Europa cavalgando o boi), estátua colocada em frente ao Parlamento Europeu em Estrasburgo; Al Gore; o excesso de proteínas, de açucares e de gorduras, no todo ou em separado, está na base dum certo grau de automutilação do Homem; vacas pastando na Ilha do Pico; edifício Louise Weiss, sede do Parlamento Europeu..



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