quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

DIAS DE CONSTRUÇÂO II

Não importa o fuso horário (1)

Se tivesse 20 anos provavelmente teria reprovado o exame de admissão para entrar médico na América. Mas aos cinquenta anos safei-me muito bem, tanto no exame de Paris como na entrevista telefonica a partir de Andorra, 
onde a família esquiava. Aos diretores de então do CDC, Centers for Diseases Control and Prevention, do governo dos EUA, de Chris Morgan a Viginia Sweezy, meus bons amigos, ou ao meu colega Bruce Ailward da OMS, devo a confiança que depositaram em mim, os conhecimentos que me 

transmitiram, as pessoas maravilhosas que me permitiram conhecer, e as missões que me atribuíram, sobretudo na África profunda. Parti para os EUA na madrugada seguinte ao casamento dos meus queridos sobrinhos. 
Se as pessoas em Leiria me conotam com o Orfeão, se nos primeiros tempos da Saúde, depois de Londres, me identificavam pela Estatística e o Planeamento, em Rotary e nestes organismos passei a ser o senhor Poliomielite, tal o apelo e a extensão da praxis que me foi rogada.
Amigos, em todos estes momentos de labor diverso há uma entidade constante, prática simultânea, uma participação ininterrupta, o OLCA. Conversei com a colaboradora Gracinda Moniz, minha boa amiga, em termos de gestão, em quase todos os dias, estivesse onde quer que estivesse, não importando o fuso horário. 
A gestão não tem de ser por regra uma atitude presencial sobretudo quando se podem fruir as equipas maravilhosas que eu escolhi. Aos seus componentes dedicarei sempre o meu ilimitado reconhecimento.

Um novelo complexo (2)
Pois bem, agora há quase quatro anos que eu  vinha preparando a minha saída de presidente da direção do OLCA, sem que tal interferisse no fazer e querer fazer cada vez mais e melhor.
A organização cresceu de tal modo nestes quase 31 anos que levava de presidência – as dezenas de frentes internas, a complexidade organizativa, imensas chefias intermédias desde maestros a diretores pedagógicos e artísticos, da música à dança, dos Encontros Internacionais a Música em Leiria, e muito mais -, que os recursos humanos necessários, atingindo largas
dezenas, e as fontes e modalidades de financiamento, tão intensamente díspares, enformam hoje um novelo complexo. Por estas e outras razões, este conjunto «empresarial» do terceiro ou já mesmo do quarto sector, do associativismo cultural, é, seguramente, de gestão mais árdua que a generalidade das empresas ou até de algumas autarquias da região.
Só estas razões justificariam redobrados cuidados na transição duma direção para outra. Claro que os elencos vão sempre a votos. Mas aqui não há secretários gerais ou diretores executivos profissionais que assegurem a transição do conhecimento e da experiência, e particularmente na diplomacia da cultura e no relacionamento informal. 

Foi assim curial esperar (e agir para o  lograr), pela pessoa que tivemos por certa, e depois fazer-se um ensinamento exaustivo, prático, livre, profundo, longo, para que ficasse plena conhecedora e em condições de assegurar a liderança. E ir a votos, obviamente, nas melhores condições de 
entrosamento. Porquanto qualquer direção desta casa tem de ser uma aposta com futuro e não um fruto conjuntural ou do acaso. A minha escolha, secundada profissionalmente por um apoio incondicional de amigos do peito, recaiu no senhor arquiteto Carlos Vitorino, à altura vereador da Câmara de Leiria, a quem auguro um imenso sucesso como Presidente do Orfeão de Leiria.

Os atores (3)

Por mim irei agora dedicar-me inteiramente à minha profissão de médico e ao ensino, com a consciência de ter construído um paradigma cultural com o contributo dessas equipas fabulosas a que, nunca é excessivo dizê-lo, estou francamente reconhecido.
Tenho a consciência plena que neste percurso de quase 31 anos no OLCA se partiu dum ponto organizativo, lúdico e de serviço muitíssimo baixo, embora enxertado numa tradição notável, ainda que descontínua, para se atingir a maturidade e o prestígio, logrados uma e outro dentro e fora do país, a que assistimos nos últimos anos, e que é algo singular em Portugal.
Tenho a consciência absoluta que esta Obra foi conseguida com o contributo e o esforço de muitos, dentro da casa e, de forma substantiva, fora dela, no ambiente social, cultural, educativo e político regional e nacional. 
Mas é incontornável que a sua longeva sustentabilidade assenta no empenho e persistência dum escol muito restrito de empreendedores.
Gerir o fenómeno cultural implica que os atores do processo, para além da competência, sejam pessoas cultas e de espírito mais maleável que os meros tecnocratas. Tenha-se em conta o fato de o resultado último interferir fortemente com o social.
Todavia, a poucos servirá a prática cultural intensa se ela definhar intramuros, se não se tornar num farol para a comunidade alargada. Isso só pode depender doutro esforço de equipa, o da comunicação e imagem reprodutoras de valores, preferencialmente em outsourcing, e profissionalizado, pela vastidão de bites. Tive sempre esse apoio qualificado.
Ao Dr. António Laranjeira, meu bom amigo desde sempre, e às suas equipas na Midlandcom, estarei para sempre muito grato.
Cheguei a dizer em várias entrevistas na comunicação social, e, mesmo diretamente, a muitos putativos mecenas, «ser um pedinte profissional com cartão do sindicato dos pedintes».
A dada altura, marcada uma reunião com o então secretário de Estado da Educação Dr. Oliveira Martins, hoje presidente do Tribunal de Contas mas também do Centro Nacional de Cultura (sucedeu aí a essa grande amiga minha, Maria Helena Vaz da Silva), a pessoa que acabastes de ouvir na simpatiquíssima mensagem em vídeo que me dirigiu, um bom amigo, era 
anto o calor naquela saleta de espera exígua do ministério e tais os nervos e a sede a atormentarem-me, que tive um apagão. Acorreram todas as secretárias e mesmo o governante, sei lá quantos copos de água e almofadas ali chegaram, levaram-me na horizontal para o sofá longo do gabinete oficial, foi uma roda viva! Digo-vos, sem ter sido propositado, afinal, também nunca consegui um apoio financeiro tão rapidamente, 125 mil Euros que deram para os últimos retoques no edifício novo do OLCA. Bendito apagão. 
Ora, tal cometimento e outros só foram possíveis pelo envolvimento, admiração e respeito conseguidos junto dos setores da economia público e privado, com a ênfase no empresariado nacional e regional, e juto de todos os governos. Porquanto sempre considerei estrategicamente fundamental que as empresas em sentido lato se envolvam na educação e na cultura.
Henrique Pinto
29 de Novembro de 2013



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