terça-feira, 17 de dezembro de 2013

UM REGAÇO QUENTE

Tenho 64 anos vividos com satisfação. Só as tristezas comuns a todos os que amam os seus e os veem partir me têm incomodado. Mas vivi anos duros como todos os que cedo se deslumbraram com as blandícias duma democracia. Sempre escrevi. Atestam-no os nove livros e mais de três mil artigos. E, 
escriba do social, sempre toquei a política como o seu lado mais lúdico, às claras, sem alguma vez hipotecar a minha consciência. Mesmo se o situacionismo e os opostos coniventes me invejassem os passos e os procurassem tolher. Mas deixei de o fazer. Estou farto de falar de incompetência e de propósitos encobertos. Vou privilegiando as pessoas e a cultura no sentido amplo. Está tudo plasmado em Dias de Construção, aqui vertidos. É uma área onde desde os 18 anos produzi algo que se vê. Sem nunca ser manga de alpaca em qualquer estaleiro nem muleta coxa de partido algum. E sempre identifiquei estratégica e
claramente o futuro. Lembro-me de a vida estar difícil e todo o bicho careta (com exceções, claro está) rumar a Macau. Há sempre quem precise de caminho feito para trilhar. Fazê-lo dá trabalho. Já corri o mundo, certo, mas não para fugir, antes para o afrontar a favor de muitos. Talvez porque nunca me faltou um regaço quente para colher afagos. E continue a crer que todos os dias podemos ter Natal.
Henrique Pinto
Dezembro 2013

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