sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A «CRISE» NUNCA EXISTIU!


Praticamente todo o leque político ironizou com o anúncio inicial do Programa Eleitoral do PSD feito pela sua líder, como cabendo numa página A4. Achei precipitação. A inteligência e o bom senso do Professor Mota Pinto, filho do falecido primeiro ministro do Bloco Central, indigitado responsável pela feitura do texto, fariam esperar o emergir de coisa mais consistente e credível.
Ora o anunciado a 27 de Agosto é de facto o minimalismo antes alvitrado, polvilhado de cinismo eleitoralista quanto baste para, dirigido a um país bombardeado com o atribuir ao governo a suposta debacle que no plano da verdade todos deviam em princípio assumir, pois ninguém desejou a crispação da economia mundial. Pior ainda, a avaliar pelo não rigor das propostas ora vistas, o mau momento planetário nunca existiu, tal o carácter liberal das mesmas. E se antes se falava de promessas não cumpridas – como se pudéssemos frear a água do rio em época de cheia –, agora promete-se toscamente tudo, contrapondo o fácil a cada passo árduo dado até aqui, a acenar com iguarias a todos os sectores sociais agitados com a carência de «medidas correctas» alardeada. Confesso que senti uma enorme frustação ao constatá-lo. Deita por terra todas as esperanças de à saída da depressão se encontrar algo mais sólido.
Infelizmente, o debate político não se faz de argumentação histórica e social, de base científica, antes se estrutura no contrapor aos que se opõem um arrazoado de postulados, o chamado argumentário, denegrindo todo o caminho por estes percorrido. É a linguagem das entrevistas dos responsáveis em cada caso, a dos sítios e blogues oficiais dos partidos. Mas é também a algaraviada irredutível dos fanáticos do futebol, «foi, não foi falta!». A uns só interessa levar ao chão os oponentes, a outros só importa ter mais razão.
A este nível básico de propósitos, maquilhado o rosto da líder a quem se aconselhou sorrir – todos agem mais ou menos assim, lembremo-nos das melenas grisalhas de Felipe Gonzalez –, o dito programa, no apagar-lhe o tique conservador e dotando-a dos poderes soberanos de Merlin, o mago do Rei Artur segundo a lenda, até poderá ser inteligente.

Hpinto
Agosto 09


FOTO: Manuela Ferreira Leite

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