terça-feira, 25 de agosto de 2009

SANTANA E COSTA


Diz-se «enganaste-me bem!» quando beltrano não corresponde às expectativas do observador. Acontece também após um pleito eleitoral. Perguntar-se-á, então o povo, o grupo, pode votar mal, tantas as opiniões coincidindo sobre alguém!? Se discordássemos estaríamos a negar a capacidade crítica individual ou o conhecimento mais apurado de certas minorias. É legítimo opinar: ser soberano no voto e dirigi-lo aos mais capazes não é exactamente a mesma coisa. E ter essa percepção não faz de alguém antidemocrático.
Pedro Santana Lopes e António Luís Costa são candidatos a liderarem a Câmara de Lisboa. Ambos foram a referendo nas urnas, bastas vezes. Boas pessoas são-no com certeza. Mas isso faz de ambos presidentes igualmente capazes? O seu curriculum nem é substantivamente diferente, tomando em conta câmaras municipais, Assembleia da República, cargo de secretários de Estado ou Parlamento Europeu. O primeiro esteve à frente de duas câmaras e foi primeiro-ministro, legitimamente, o segundo abraçou quatro pastas ministeriais em três governos por mais de dez anos.
Santana Lopes teve este trajecto, quase se pode dizê-lo, porque lutou muito por consegui-lo, impôs-se com coragem, nem sempre foi propriamente uma escolha ou opção fácil dos seus pares. A um tempo, a inveja do seu bom aspecto, mulherengo, ar de jet set, mas ainda feitio truculento, instabilidade na argumentação, excessivo liberalismo, tornavam-no incómodo.
António Costa, pelo contrário, sempre gozou da confiança da generalidade dos seus pares, discreto, não contestado na sua competência (talvez tenha sido o único ministro da administração interna com mandato tranquilo), unanimemente apontado pelos fazedores de opinião para funções da maior responsabilidade.
Quando se olham os resultados conseguidos as diferenças acentuam-se um tanto mais.
Em qualquer dos lugares Santana Lopes teve alguém a apanhar-lhe as dores e a secundá-lo, com lealdade, permitindo-lhe libertar-se das «coisas pesadas» e deixar-lhe tempo para uma vida mais exposta publicamente, como gosta. Sempre adorou obras faraónicas, mesmo se a contestação quanto à pertinência do túnel do Marquez tenha sido algo injusta. Tão pouco é imperioso ver-lhe as contas. Afligia o lamento de quantos lhe seguiram, sobretudo em privado, aterrados com a herança, as dívidas mais que muitas e gordas, as perspectivas de as pagar a não sobrarem. Depois, no exercício de chefe de governo, muito pouco pacífico, deu mostras de franca incomodidade, aqui ou ali a tocar o trágico e o hilariante.
A António Costa não se lhe pode apontar o carácter volúvel ou menor habilidade no dirimir das suas responsabilidades. Tem credibilidade no que faz, formiguinha a amealhar, controlo sobre as despesas, evitar passivos e prevenir futuro, sem exuberância pública, com maior empenho a proporcionar saber e bem-estar dos cidadãos. Na Câmara de Lisboa não tem tido a vida fácil, a assembleia municipal é-lhe politicamente adversa, condiciona-o, o Porto de Lisboa é ainda Estado dentro do Estado, tem de ter uma atitude equilibrada, sensata, perante o governo, o do seu partido, gritando aqui, calando acolá, e bem se sabe quantas vezes os interesses de autarquias e governo se opõem, sobretudo na capital. Dedica-se de corpo inteiro ao trabalho.
O ter uma boa relação com os dois não me impede de ter sentimento bem diferente quanto a quem tem condições de ser um melhor presidente.

Hpinto
Agosto 09

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