segunda-feira, 31 de agosto de 2009

POVO DE SANGUE QUENTE


O pequeno avião da Air North planava sobre a terra enrugada de Timor Leste, montanhas sobre montanhas de verde luxuriante tisnadas, barracas sobre barracas a marcarem a aresta superior das elevadas formações geológicas. Reunidas compulsivamente pelo ocupante indonésio na margem do caminho que bordeja o território, as populações debandaram a um tempo, forçadas pelas casas feitas tocha às mãos das milícias integracionistas mas também pela reserva de saudável rebeldia, e ergueram os refúgios da sua intimidade lá tão perto do céu.
Entre este povo de sangue quente e dado a extremos, vogando da ternura e do penhor à raiva do quão difícil é esquecer, tive a maior gratificação duma vida quando ali chefiei a delegação duma entidade financiadora do apoio à obra social da diocese de Baucau. Inauguraram-se com a maior solenidade as casas tradicionais reconstruídas – de certo modo são os tótemes, sinais duma identidade e personalidade colectiva recuperadas –, em Luerai e Foemma, duas aldeias que também conheceram a água potável, e ainda o maior centro de formação profissional do território.
Soprou-me alguém bem colocado que nem Sampaio nem Guterres tiveram recepção e reconhecimento de igual fervor.

Hpinto
Agosto 09

FOTO: Ximenes Belo

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