segunda-feira, 24 de agosto de 2009

NEM SEMPRE O SILÊNCIO É OURO


Tive oportunidade de viver por duas vezes as eleições para as prefeituras no Brasil. Confesso, diverti-me imenso com algumas das suas exuberâncias. Sobretudo onde julgava estarmos um tanto mais evoluídos na forma de as fazer. O número dos candidatos a cada lugar era elevado, por vezes na casa das dezenas. A publicitação de cada campanha centrava-se em torno do algarismo atribuído aos cidadãos a eleger, o 27 ou o 33 por exemplo, e não do nome. Depois, podia-se fazer campanha em dia do voto e em cima da própria urna de escrutínio, brandindo faixas e consignas. Vários candidatos eram mesmo pessoas aprisionadas pelo cometimento de crimes.
Já há anos me apercebi não sermos assim tão avançados quanto a comparação, à altura, mo fez supor. Talvez aquele alarido popular aos ouvidos de quem se propõe votar tenha verdade superior aos nossos costumes!
O país está em contenda para uma eleição com o formato do corporativismo. Quando o mundo continua imerso no desconhecido. Para sair do torpor, instrumentos de navegação e rotas não se perspectivarem assaz diferentes das do passado. Daí as forças políticas duma ponta à outra não sentirem pejo algum em se atirarem aos resultados e comportamentos, num contexto assim. Pouco importa se alguém acha não poder ter agido melhor, o discurso dirá, sim senhor, teríamos feito isto e aquilo. E se o partido do governo, por via da depressão económica, o acentuado desemprego adveniente e as reformas não conseguidas, foi penalizado nas Europeias, agora é malhar até à aniquilação completa do primeiro-ministro. Este despudor parece naturalíssimo.
Juntei-me a antigos assessores presidenciais em pugnas eleitorais e nunca os vi excessivamente inibidos em referirem-se às outras candidaturas. Se há exercício político efectivo dos qual será de esperar um apagamento de imagem, é este, tenham os protagonistas tido ou não um passado de evidência maior. Onde é legítimo às formações partidárias digladiarem-se não sejam os lugar-tenentes dum órgão de soberania unipessoal a contestarem-nas ou a aplaudirem-nas, como se vê, mesmo se tenham sido encostados à parede. Se quebram o dever de contenção da forma excessiva como nos temos apercebido sem a prova irrefutável do afirmado e se o seu gesto é susceptível de gerar envieses da opinião dos cidadãos, então alguém os «aconselhe» a porem a viola no saco.

HpintoIn Região de Leiria, Agosto 2009

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