sábado, 15 de agosto de 2009

QUASE UM DOM



O maestro Jean Sébastien Béreau dirige 6º Estágio Internacional de Orquestra (em baixo),e Risto Nieminen, David Gomes, Miguel Sobral Cid, Artur Pizarro e Henrique Pinto, durante o 27º Festival Música em Leiria (em cima)

Há sempre algo de novo em qualquer gesto saudável. Seja apenas um sorriso tímido de ternura. A mão que brande a repelir o pessimismo. O olhar firme incitando à disciplina, à coesão. Como me disse Bill Gates há uns tempos «o sucesso constrói-se sobre o sucesso». Num processo de voluntariado social como este (e também na prática profissional), há sempre três elementos mágicos: a oportunidade para as rupturas certas; a assumpção de que é possível desempenhar um papel único, singular; trabalhar com gente inteligente em problemas assaz interessantes. Sustentar o equilíbrio dinâmico desta tríade e lograr resultados socialmente úteis é o sal da vida. É a receita deste projecto de 26anos no Orfeão de Leiria Conservatório de Artes (OL CA).
Ao festejar 63 anos de vida activa esta instituição inspira várias mensagens de simbolismo motivador a reter. Respeitar o passado, reflecti-lo, honrar as pessoas e ícones, é um imperativo ético, uma forma de vida, um tique civilizacional. Vida é futuro. E o futuro é já hoje. Celebrar o futuro implica não parar no tempo nem tão pouco dormir à sombra do passado. Só seremos dignos do passado e do porvir se conseguirmos fazer a ponte subtil que os separa.
O projecto OL CA é a prova dos nove de que essa construção é possível, ganhadora, com ferramentas novas e bom gosto, sem quixotismos nem exclusões.
Reunir em concerto, no dia mais solene das celebrações desta efeméride, a Orquestra Filarmonia das Beiras no ultrapassar do milhar de performances – entidade de que o OL CA é primeiro fundador –, os nossos Corais tradicionais – nome e estandarte da instituição mais abrangente que deles emanou, sem descontinuidade - e o Coro de Câmara de Leiria (da EMOL), juntos num só elemento canoro (estão a fazer um importante trabalho interactivo e renovador, esforçado, com prazer, dirigidos pelo professor Pedro Miguel, um jovem muito talentoso), dando visibilidade aos solistas da casa, e todo este complexo a ser dirigido pelo maestro Jean-Sébastien Béreau (professor do Conservatório de Paris, reconhecido no mundo inteiro, que nos orgulha sobremaneira ter como colaborador), é a consagração da praxis tipo chapéu de chuva, integradora, de qualidade, compreensiva, inspiradora e fonte de motivação, que se tem vindo a construir com êxito ao longo dos anos.
É um desafio emocionante. Com a responsabilidade educativa sobre cerca de 5000 alunos, singular em Portugal mas também na Europa, todos os dias sentimos o estímulo para que o carácter de massas não nos leve a obnubilar o permanente desígnio, conseguido, de proporcionar ensino qualificado com mais e mais garantias de credibilidade.
Este papel único protagonizado por tantas equipas profissionais, criativas e devotadas (Neuza Bettencourt e Ana Manzoni, Pedro Miguel e Sandrine Milhano, Gracinda Moniz e Catarina Sousa, Paula Mendes e Mário Teixeira, Béreau e Sobral Cid, Luís Casalinho e Rui Carreira, Mário Nascimento e Célia Nunes, Ana Cristina e Catarina Moreira, entre outros, são líderes notáveis e formiguinhas laboriosas, com sentido de pertença), uma plêiade de talentos em solistas e grupos e a dinâmica moderna de abertura ao conhecimento, à verdade, à procura da harmonia e do belo, do bem estar alheio, optimista, consubstanciam o OL CA de amanhã.
Mas há uma nota triunfal nesta partitura. A instituição no seu todo é acima de tudo uma escola dos valores intemporais da Humanidade. É quase um dom. Sobretudo para os milhares de famílias que a fruem directamente. Ao contrário do que expande o meu colega Amaral Dias, nunca teremos de nos resignar ao sofrimento.

Hpinto (Presidente)
Agosto 2009
NB «O que distingue umas políticas culturais das outras», num Programa de concerto de aniversário

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