quinta-feira, 1 de outubro de 2009

FRUIR OS ANOS DOURADOS



Ter minha mãe em nossa casa enquanto viveu foi para mim superior a tudo. Jamais me sentiria feliz se o não tivessemos feito. Por isso mesmo a saudade pela sua partida é francamente maior.
As coisas que eu ouvi, não apenas em países supostamente mais evoluídos socialmente, mas sobretudo entre nós!
Claro, se a doença atormenta, não é fácil. Mas mesmo nesse aspecto fizemos tudo. O suporte social é aqui muito importante, nomeadamente se referente a apoio domiciliário na higiene e na comida. A companhia constante é também uma necessidade absoluta, porquanto a conversa amiga, o passeio mesmo curto, os bordados e a leitura, com a participação amiga de alguém, e, sem viciar, as notícias e a novela, prolongam a vida.
A institucionalização é às vezes, poucas, algo imperiosa. As pessoas com idade podem ganhar aí um pouco do carinho que os seus lhe não dão, seja qual for a razão. Quanto ao resto é um fenómeno sócio-cultural recente. Em cada dia a passar há instituições mais vocacionadas para tornar as pessoas mais felizes, com meios que lhes permitam ter uma prática física e mental saudável, com afecto. Mas a regra continua a ser o empilhar de pessoas sem comunicação entre si, alimentando-se mal, postadas frente ao televisor distante, embrutecedor e vicioso.
Quem conversa com os doentes de mais idade sabe bem quanto eles preferem estar na sua casa até poderem. Crescem hoje as instituições que favorecem esse desejo com elevada qualidade, tanto as residências assistidas – caso dos Grupos Mello e Espírito Santo -, como o atendimento domiciliário numa escala muito ampla de cuidados, como a Confort Keepers, por exemplo. Infelizmente não há apoio social do Estado significativo neste sector do apoio.
Porquê esta abordagem hoje, aparentemente solta de tudo o resto? Exactamente por se assinalar hoje o Dia Mundial do Idoso. Tais efemérides têm um interesse muitíssimo relevante por chamarem à atenção para os problemas. Idosos somos e seremos todos, cada vez mais tarde se a vida activa e intelectual for palpável. Daí o termo idoso dizer cada vez menos. À falta de melhor utilizemos a expressão viver os Anos Dourados. Todos têm o direito de os fruir com dignidade e afecto, activos.

Henrique Pinto

Outubro 09

FOTO: caricatura de doente com idade

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