sábado, 24 de outubro de 2009

OBSTÁCULOS INICIAIS (2)


O Dr. Albert Sabin, inventor da vacina oral da polio, era também um forte proponente da imunização de massas contra esta doença. Ele testara a sua eficácia na União Soviética, na Europa de Leste e em Cuba. Nessa altura a maioria dos líderes de saúde pública mundiais preferia uma aproximação mais gradual, dirigida simultaneamente a várias doenças evitáveis pela vacinação através de programas de imunização de rotina, que podiam ser sustentáveis. Por isso mesmo não aceitaram prontamente «programas verticais» contra a polio.
Albert Sabin vivia na bonita cidade de Cincinnati no Estado de Ohio, que muito aprecio, moldada numa arquitectura elegante, onde é instantâneo o atestar da sua ascendência na imigração alemã. Era membro honorário do Rotary Club local. Discursava frequentemente em clubes e conferências de distrito. Em 1980 foi convidado a participar como orador na Convenção de Chicago. Terminou o seu discurso com o desafio à organização para se envolver na imunização de massas contra a polio.
O conceptualizar da eliminação definitiva do vírus da polio por parte de Rotary começava assim lentamente a fazer o seu percurso. A germinação das ideias, a sedimentação das convicções quanto à factibilidade dum tal empreendimento e a construção de instrumentos financeiros e de política que evoluiriam para tão nobre propósito, marcaram a década de setenta.
Os esforços conjugados de três presidentes consecutivos de RI, Jack Davis, Glem Renouf e James Bomar, conduziram à formação do Programa 3 H, o qual acabou por crescer e evoluir normalmente para o Programa PolioPlus.
W. Jack Davis, das Bermudas, que assumiu a presidência em Julho de 1977, tinha um lema fortíssimo, Servir para Unir a Humanidade. Sugeriu que a Comissão de Planeamento do 75º Aniversário de RI considerasse um programa ligado ao Ano Internacional da Criança das Nações Unidas, em 1979.
Davis enviou o seu assistente executivo Herbert Pigman à sede da OMS em Genebra, na Suíça, para discutir as formas de Rotary poder prosseguir com a sua proposta de combate à poliomielite. A OMS não foi encorajadora. Os seus responsáveis pintaram então um quadro bastante negro quanto aos custos – tanto em termos de recursos humanos como económicos – para inocular as crianças do mundo com a vacina contra a polio. Deram mesmo pouco valor ao Programa de Rotary de imunização numa só volta operado na Guatemala, como se não fosse mais que um esforço bem intencionado que, mais do que ajudar, iria embaraçar os objectivos últimos da OMS.
Henrique Pinto
Setembro 09, no Dia Mundial da Polio
FOTOS: NID em Angola, 2002, Manuel Cardona, Silvia Nagy, Carlos Lança, Manuel João Madureira Pires e Henrique Pinto, líder da missão; o presidente de RI James L. Bomar Jr., 1979-80, imunizando uma criança

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