domingo, 20 de setembro de 2009

ASSOCIATIVISMO, UMA QUESTÃO DE CIDADANIA (2)






Coesão, urbanização e modernização

«Com mal ou com bem aos teus te atém»

Ditado popular


Hoje em dia, com o processo de globalização da economia a suscitar mudanças comportamentais globais e individuais dos seres humanos, é forte em muitas latitudes o apelo ao exercício do associativismo para enfrentar os grandes desafios pessoais e empresariais. Veja-se o caso do novo Brasil, o espírito da Conferência de Porto Alegre, que teve agora reflexos positivos, mesmo se mínimos, na Cimeira de Davos.
O apoio ao associativismo estudantil na Europa constitui cada vez mais uma das formas de aprendizagem da participação cívica e democrática. Entre nós atribui-se-lhe a virtude de contribuir para a diluição da agressividade nas instituições escolares, gerada, entre muitas outras razões, por algum mal conceptual do ensino, por banda, quer dos governos, quer das corporações.
Porque associativismo é, acima de tudo, sinónimo de coesão gregária.
A existência dum grupo estruturado não significa que o mesmo seja coeso. Para tal tem de haver vontade e motivação permanentes que conduzam os seus membros.
Associativismo é também sinónimo de coesão. A razão essencial para a existência de uma associação é o sentimento de coesão gregária. Para prevalecer a coesão tem de haver, permanentemente, vontade e motivação no conduzir os associados a conviverem intimamente com o objectivo do grupo donde dimanam, o de pertença.
A coesão só faz sentido quando há um leque amplo de valores ou de opções intimamente partilhado pelo grupo. «Não são tanto ou apenas as necessidades comuns que geram essa união, é sobretudo a possibilidade de apreciar e discutir aspirações em conjunto e colaborar contribuindo para a ultrapassagem das dificuldades surgidas na busca de soluções adequadas. Ninguém é obrigado a associar-se, nem uma associação afasta do seu seio quem nela pode e deseja participar. È um direito democrático, tanto o de participar como o de não participar. No entanto, o associativismo, como forma mais elevada de convivência humana, viabiliza o conhecimento, o contacto e a compreensão de pessoas, dos seus problemas, e, consequentemente, o respeito pelo seu semelhante» (Boletim da Associação Portuguesa de Aviação Ultraleve, Dezembro 2006).
Quando tal não acontece o associativismo soçobra.
Mas há outros elementos de reflexão a ter em conta. Assim, tanto por parte dos conservadores (excepto, entre outros, para os neo-conservadores americanos), como de social-democratas e socialistas, a sociedade providência, outrora descrita como um conjunto de sobrevivências de raiz rural e pré-moderna, destinada a desaparecer sob o impulso da urbanização, da modernização e da expansão da regulação pelo mercado e pelo Estado, é hoje recuperada e transcodificada como fenómeno pós-moderno, como resposta aos problemas da solidariedade social na era do capitalismo desorganizado, através da transferência para a sociedade civil das funções de protecção antes atribuídas ao Estado. A falência do edifício financeiro mundial recente potenciou esta convicção.

Continua abaixo, em 3)

Henrique Pinto

Adaptação de Palestra promovida pelo Rotary Club Marinha Grande na Biblioteca Popular de Vieira de Leiria, 2007

FOTOS: Associação Cais, paladina da defesa dos Sem Abrigo; Olof Palm, o obreiro da nova Suécia

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