quarta-feira, 16 de setembro de 2009

PENSEI QUE NÃO FOSSE POSSÍVEL, MAS É!



Impressionante como todos nós custamos a acreditar em algo que nos é falado da boca para fora. Sempre ouvi dizer que em determinados países a consciencialização no trânsito era diferente no Brasil. Sabe aquelas histórias de que o brasileiro é o pior motorista do mundo e que os estrangeiros são maravilhosos? Pois bem. Estive recentemente na cidade de Gramado, no Rio Grande do Sul, e tive a oportunidade de testemunhar algo surpreendente: motorista de carro brasileiro com consciência e educação no trânsito. Isto quer dizer que eu pensava que não fosse possível ver isso, e acabei vendo e participando do fato.
A cidade de Gramado é encantadora. Nada é parecido com qualquer cidade paulista. A arquitectura é diferente, o clima é especial, as ruas e calçadas devidamente planejadas, lojas encantadoras, flores.... muitas flores.... e em todos os lugares... realmente é uma cidade nada brasileira. Dois detalheis que me chamaram muita atenção: semáforos e fios eléctricos suspensos. Simplesmente não existem. A Avenida principal, chamada de Borges de Medeiros, é a mais longa, a mais larga e a que reúne os principais estabelecimentos comerciais. Toda nivelada, sem um semáforo e todos os fios (eléctricos e de telefonia) embutidos.
Pode parece coisa de arquitecto, ou urbanista maluco, mas realmente a impressão é outra sem aquela teia de fios em todos os postes de Rua. A impressão que se dá, aqui no Estado de São Paulo, é que tendo poste é para pendurar fios. Seja qual for: cordas, fios eléctricos, telefonia, TV a cabo, iluminação e por ai vai. Em Gramado o poste tem somente lâmpadas. Todos eles são padronizados, e ainda de uma forma que a arquitectura da Rua absorva de forma natural, sendo imperceptível na visão do cidadão.
Uma cidade em que o turismo é o principal produto do município, táxi e carros especiais de transporte são muito comuns transitarem para lá e para cá. Existe até um restaurante que oferece uma «limusina» para buscar os clientes e levá-los de volta. Diante de tanto carro, imagina-se que qualquer cabeça de bagre é o motorista. Engano. Os que eu tive oportunidade de conhecer, eram todos bem-educados, solícitos e sempre demonstrando interesse em ajudar e auxiliar no que fosse preciso. Uma simpatia a toda prova.
Numa das corridas entre o local do evento que fui e o hotel, peguei um táxi e conversava com o motorista durante o trajecto. Enrolei, até perguntar: “Esta cidade não tem semáforo?”, para minha surpresa o rapaz respondeu: “Não”. Curioso que eu estava, indaguei: “Porque não?”. Pacientemente o motorista, sem se irritar e sem olhar com aquele pensamento que me acusara de imbecil, respondeu: «Aqui a gente acredita que povo educado não precisa de semáforo». Não foi preciso me dizer mais nada. Entendi perfeitamente a mensagem e parabenizei não só ele pelo comportamento, mas a forma dele pensar.
Realmente em Gramado (em Porto Alegre também percebi isso), quando o pedestre pisa na Rua ou Avenida, o motorista reduz ou pára o veículo. A velocidade não é exagerada e existe tempo para tudo, sem a necessidade de buzinar ou gritar. Fiquei impressionado com o comportamento e a forma de pensar neste sentido daquelas pessoas, pois já assisti em São Paulo e até mesmo na cidade de Marília, cenas bárbaras de pura selvajaria.
Ainda não acreditando que havia percebido isso, pensei que fosse algo de minha imaginação e ainda contaminado com o entusiasmo e ansiedade que me acompanham em todas as viagens que faço. Ao encontrar Liza, minha esposa e amada, ela faz o mesmo tipo de comentário que o meu, mas antes que eu pudesse lhe contar a experiência que presenciei. Se eu que sou um «búfalo», percebi isso, imagine Liza, que mais parece uma «borboleta». Conclui que o comportamento do motorista é comum naquela cidade e região, o que me faz crer que seja possível um dia enxergar isso nos motoristas paulistas.
Para aqueles que ficaram pensando o que eu fazia sozinho no Táxi? Respondo de imediato: enquanto eu participa do evento, Liza foi conhecer todas as lojas da cidade, e para minha surpresa não comprou quase nada. Pensei que isso não fosse possível, mas é.

Márcio Cavalca Medeiros

E-Mail: marcio@medeiros.jor.br
Blog: marcio-medeiros.blogspot.com

FOTOS: cidade Gramado, Rio Grande do Sul, Brasil; estrada que conduz a Gramado, tal e qual um caminho açoriano bordejado de hortênsias

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