sábado, 5 de setembro de 2009

OS PRIMOS


Coisa absurda, diz, paradoxo abjecto, milhões de crentes, as pragas deste e do século anterior ditas produto laboratorial do mercantilismo. A mentira chega no embrulhinho papel dourado, trás meia dúzia de verdades. A epidemia de gripe está no Tube como parte dos interesses do secretário de Estado de Bush.
Salta à vista, há mecanismos de interpretação complexa de eficácia superior às maiorias políticas a impedirem todo o devaneio reformista. A quem o disser convicto, logo lhe penduram a etiqueta, teoria da conspiração.
Os pais eram de terras próximas, ambos de muitos irmãos. Mário nasceu num universo imenso de primos e primas, cada qual fazendo juras de superar os outros em mais rebentos. Mal conhece a todos, a nenhum quer mal. Nem mesmo ao autor do muro, qual o de Gaza, rouba-lhe a vista do mar, o maior dos seus privilégios. Aquela namorada conheceu-a exactamente em casa de primas. Anos depois impacienta-o vê-la a entrevistar na TV, desdenha dos convidados. Felizmente, cogita, não virou costas ao primo do abuso, talvez devesse, e o namoro definhou sem conserto. Tão pouco veio atrás na recusa, candidato político não senhor.
Tudo podia ser diferente no aleatório da vida. Até onde irá o carácter dum primo, ignora-se, as leis de Mendel desafiam certezas, em vez do muro pior seria «coisa» de colarinho alvo. Inquietá-lo-ia hoje assim a hipocrisia não fora seguir um caninho em vez doutro? O passado renega ses. Um doente podia dar-lhe um tiro como a Bombarda, não permitiu à parturiente de há minutos sair do hospital, a polícia intervém. O empresário dos média asilava-lhe a namorada no agradar ao mando. Tivessem casado, seria o espertalhão das sentenças? Quantos presentes desagradáveis se recebem na vida? Nos museus dos antigos chefes de Estado há sempre a galeria recôndita do improvável.
Por longos anos admirou o jornalista perseguido pela televisão do Estado. Talvez pelo nojo à descriminação negativa. Aí está, perseguido é agora perseguidor, opina em vez de suster o ímpeto. No liliput dos brandos costumes do feitor de Santa Comba, garanhão das televisões, imagine-se a distorção, a arte política, raramente nobre a ganhar eleições, virou estilo cosa nostra.
O suicídio do cientista inglês traído pela televisão pública, até então suposta independente, a propósito das inventadas armas de destruição massiva, foi-lhe penoso. Sacrifício triste e inútil, sem alertar consciência alguma. Daí, pensa, talvez o antigo governante «voz do luto», consiga tapar o sol peneirando, tantas suspeições anódinas levanta.

Hpinto
Setembro 09

FOTO: Carlos II de Espanha em Adoração do Santo Sacramento, obra do barroco, Claudio Coello,1690, Madrid

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