quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A CORRIDA PELA FOME


Em 2005 fui voluntário no Banco Alimentar de Orange County, em Los Angeles.
Em cadeia, qual Chaplin em Tempos Modernos, um a um repetíamos tarefas à exaustão, do moldar as caixas de cartão, colocar o produto alimentar que nos coubera, a uns o sumo, a outros as sandes, até à selagem. Nesta área há três instituições similares. Aquela alimenta 7,5 milhões de pessoas.
Haverá sempre quem duvide que isto suceda na América. Como os descrentes de Obama quando ora refere os 10% de concidadãos sem seguro de saúde. Já nos anos sessenta Gilberto Freire citava os 30 milhões de americanos a deitarem-se sem nada para jantar. Em escala muito aberta, fome e pobreza são chagas transversais a todo o mundo. A presente crise alimentar, com o agudizar da inflação, supera a dimensão humanitária tradicional, afectando muitos países desenvolvidos.
Enquanto a crise dominou os noticiários – só foge deles no calendário eleitoral – foi necessário lembrar ao mundo que grande parte dele não trabalha em fábricas ou escritórios. A recessão fere as quintas de pequena dimensão e as áreas rurais do mundo, onde vive a maior fatia de pessoas com fome, um sexto da Humanidade.
A 16 de Outubro, Dia Mundial da Alimentação, celebra-se o criar da FAO, organismo das Nações Unidas, em 1945, sedeado em Roma desde 1951. Tem por objectivo elevar os níveis de nutrição e desenvolvimento, melhorar a eficiência na produção, elaboração, comercialização e distribuição de alimentos e produtos agro-pecuários. Jacques Diouf, secretário-geral, centrou as celebrações de 2008 nas alterações climáticas e na bioenergia.
As comunidades pobres dos países em desenvolvimento são mais expostas às mudanças do clima. Embora contribuam pouco para o efeito de estufa resultante das emissões gasosas, indutor do aquecimento global, responsabilizado pelos cientistas na viragem climática.
As estratégias de adaptação são tema urgente. Em especial para os países mais vulneráveis, onde vive a maior parte dos famintos. Urge rever planos de uso da terra, programas de segurança alimentar e políticas de pesca e florestas para proteger os pobres de tais mudanças.
O crescer em espiral da produção de biodiesel líquido é fruto das políticas de países com dinheiro em apoio à mitigação dos danos do aquecimento da terra e ao explorar alternativas aos combustíveis fósseis. O malbaratar terrenos agrícolas para o gerar tem já repercussões graves, embora sem a dimensão económica que chegou a prever-se.
Se a tal juntarmos o uso imoderado de carvão de madeira, o pulular de geradores diesel tipo Angola ou Tanzânia, o baixo investimento no prevenir doenças animais transfronteiriças e a subida dos preços alimentares, maior o risco de haver mais pessoas com fome. Diouf alertou os líderes do mundo quanto à ameaça de futuros conflitos pela alimentação. A Corrida pela Fome, a Liga de Futebol Profissional contra a Fome e as vigílias de Roma e Milão, foram gestos práticos nesse sentido.
Em 2009 pensemos ir mais alto, pede a FAO. Há capacidade para encontrar dinheiro e resolver problemas quando considerados importantes. Asseguremos o reconhecimento da fome no planeta como um problema crítico e resolvamo-lo. A cimeira mundial de Novembro pode ser fundamental para erradicar este pesadelo.

Henrique Pinto

In Diário de Leiria

FOTO: Cristiano Ronaldo. É um expoente máximo do futebol mundial. Esta indústria deu um contributo importante no caminho do erradicar a fome no mundo.

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