sexta-feira, 11 de setembro de 2009

ROMPER COM O PASSADO




Tibete e Afeganistão, das áreas mais bonitas do mundo. A maioria dos cidadãos ignora. A história falsificada coloca o majestoso Potala estampado no fundo verde das montanhas cercando Lhasa. Não onde está, ao centro da cidade pobre donde os tibetanos fugiram há muito.
Porquê evocar o Tibete e a música? Talvez para libertar-me de estereótipos, observações imobilistas. Romper com o passado num contexto cultural e político pressupõe o escrupuloso respeito da história, uma análise de presente e futuro à luz de novas regras.
Sobre o Tibete da actualidade ouvem-se protestos no mundo, tanto dos mais esclarecidos como de radicais. Todos clamam pelo fim da violência da República Popular da China sobre este povo simples. Alguns exigem a independência.
O único período de verdadeira independência tibetana ocorreu entre os séculos IX e XIII DC. As ocupações sucessivas desta rota da seda, dos mongóis, manchus, chineses, nepaleses, ingleses e russos, até à anexação pela China em 1908, reiterada em 1950 (com a agitação apoiada pela CIA entre 1956 e 72 e milhares de tibetanos mortos), conduziram a que o estatuto autonómico a vigorar há 57anos seja o grau político mais avançado desde o século treze.
Quem visita o Tibete tem a convicção óbvia de tratar-se duma ocupação violenta sem o menor respeito por qualquer dos seus cidadãos. Não duvida por um instante dos massacres cometidos até hoje.
Governo tibetano no exílio e os manifestantes mais jovens exigem a independência do território, nunca reconhecida por qualquer país. O Dalai Lama pede o fim de toda a violência e o respeito pela cultura e valores do Tibete, num quadro de autonomia plena. É uma posição budista e pragmática
As Filarmónicas do nosso país são um instrumento de aculturação popular importantíssimo. Durante anos imergiu no atavismo quase absoluto. Hoje, a maioria tem professores credenciados. Muitos dos músicos fazem diferenciação académica especializada. Com o ensino da música gratuito para os alunos em regime articulado, abre-se um mundo de melhor qualificação artística. Parcerias locais entre filarmónicas e escolas de música, como as firmadas entre estas e as escolas do ensino regular, podem assegurar um nível artístico mais alto próximo do povo, o ensino a dois níveis, no conservatório e na filarmónica. Os tempos não permitem aos protagonistas estarem de costas voltadas em universos opostos.
No Tibete o corte com o passado não estará para já na independência, perdida há oito séculos. Mas na autonomia política e cultural. Dar tempo ao tempo. No que às Filarmónicas concerne não estará na fixação num meio alheio à colaboração franca com o mundo académico.

Hpinto

In Diário de Leiria 2009

FOTOS: de cima para baixo, Palácio Potala; monges tibetanos; pessoas do Tibete

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