segunda-feira, 14 de setembro de 2009

É POSSÍVEL!


«Os homens que vão pr’à guerra» era uma canção popular, melancólica, harmonizada por Fernando Lopes-Graça, alusiva aos jovens que o regime enviava para os territórios portugueses em África, depois de ali eclodirem as lutas nacionalistas pela independência. Praticamente a maioria dos meus companheiros recrutados em 1971 morreu em África. Vivemos anos na angústia de nos calhar a vez de recebermos a guia de marcha. E não era a cobardia a tolher-nos, mas a franca oposição.
Felizmente quase tudo mudou com a democracia, mesmo mitigada no seu alvor. Malgré tout pode dizer-se do colonialismo português – sem esquecer os exageros – ter sido um conjunto de feitorias, terras de emigração, sem ocupação militar durante quase cinco séculos.
Três décadas depois sobre o nosso pesadelo e já alguns anos de alívio do de países como Angola, Moçambique, Guiné ou Timor, existe uma ampla comunidade da língua portuguesa, a CPLP, abrangendo Portugal e Brasil e os territórios africanos e asiáticos.
Jorge Sampaio, ainda por convite de Kofi Annan, é Enviado Especial das Nações Unidas para a Luta contra a Tuberculose. É também Embaixador de Boa Vontade da CPLP para os Assuntos da Saúde.
Amigo, conhecedor do meu périplo pelo mundo e particularmente por África, algumas vezes como voluntário de causas humanitárias, outras como profissional médico ao serviço de organizações internacionais, convidou-me para orador no fórum «Sociedade Civil Saúde – Estratégias de financiamento sustentável na área das pandemias Tuberculose, SIDA e Malária», a anteceder a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da CPLP e a assinalar o início da presidência daquele órgão pelo Professor Aníbal Cavaco Silva.
Pude assim dirimir argumentos com uma plateia selecta, ao lado de Luís Sambo da OMS/África, Nelly Enwerem-Bromson, da Stop Tb Partnership, Walter Mendonça Filho, da Global Fund to Fight Aids, Tb and Malária, e de cientistas das Fundações Aga Khan e Calouste Gulbenkian.
A Cimeira da CPLP na Praia, marco no desenvolvimento político da cooperação na saúde, definiu um plano estratégico neste sector para aprovação na reunião seguinte de ministros da saúde. O apoio da sociedade civil é determinante no seu êxito. A experiência da erradicação da poliomielite, a maior campanha de saúde pública de sempre do sector privado, constitui o melhor dos exemplos para o sucesso do vencer tais pragas. Importa, como na Iniciativa Global da Polio (a agregar Rotary International, OMS, UNICEF e CDC), falar a uma só voz e funcionar simultaneamente como financiador – muitos são os doadores, desde 50 governos, incluindo o de José Sócrates, ao Banco Mundial e à Fundação Bill and Melinda Gates –, coordenador e produtor de serviços. Doutro jeito não se viabiliza uma política coerente e eficaz de recursos duma tal abrangência.

Henrique Pinto

In Diário de Leiria, 2009

FOTO: a apresentadora de TV e actriz de teatro e cinema Catarina Furtado, Embaixadora de Boa Vontade das Nações Unidas

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